Por Felipe Dutra
Graduando em História – UERN (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte).
Atualmente é raro, ou muito dificilmente nos comunicarmos através de cartas. Com o avanço da tecnologia, a troca de mensagens se tornou instantânea, principalmente com o uso de redes sociais ou aplicativos.
Porém, antes dessa agilidade astronômica que tenta se aproximar a “299.792.458 metros por segundo”(velocidade da luz); prática imposta pelo sistema capitalista na qual a troca de informações nas relações sociais precisam ser rápidas, independente da distância latitudinal e longitudinal, as pessoas anteriormente se comunicavam através das cartas.
Estas poderiam demorar meses, dias, talvez anos para serem entregues, sem contar a possibilidade de não chegar ao destinatário. As missivas passaram a ser objetos, ou melhor, fontes de pesquisa para quem estuda sociedades, principalmente para os Historiadores e Historiadoras.
Uma das primeiras novidades espalhadas na Europa sobre as terras do lado oeste do Atlântico, que já se chamou: “Ilha de Vera Cruz, Terra dos Papagaios, Vera Cruz, Santa Cruz, até se chamar Brasil porque nos primeiros anos de sua colonização era retirada das matas na costa brasileira a madeira da Caesalpinia echinata, chamada popularmente de pau-brasil”[1]; foi sobre seus habitantes.
Um objeto (carta) que faz parte da memória da Terra (planeta), pertencente ao colonizador\explorador que foi Portugal; já nos traz nas palavras do autor as primeiras impressões: “avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito […] nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas […] ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam”.[2]
E como eram suas habitações? “[…] Casas, as quais diziam que eram tão compridas […] E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma numa extremidade, e outra na oposta”.[3]
É inegável que nessas terras já existiam possessores, com seus costumes, cultura, arte, organização social, crenças, enfim com um modo de vida, que de nenhuma forma pode ser considerado atrasada, ou que era preciso civilizá-los. A cobiça em tomar, explorar, em tirar as riquezas dessas terras já vem impressa na “certidão do Brasil”; como aponta o autor da carta ao detalhar a situação de que à primeira vista não se achou o ouro, mas “todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata”.[4]
As consequências dessa exploração predatória reverberam atualmente. E a população do estado brasileiro de Minas Gerais, este que carrega no nome a abundância das suas riquezas minerais: ouro, diamantes, ferro entre outros; desde o período colonial é alvo de exploração, e vítimas de cobiça que parece não ter fim. Em 2019 mais um trágico acontecimento, mais precisamente no dia 25 de janeiro, no qual uma avalanche de lama “deixou 270 pessoas mortas e despejou milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração na bacia do Rio Paraopeba, ninguém foi responsabilizado pela tragédia.”[5]
Mais um fardo na luta pela sobrevivência dos Povos Originários, já aprovado na câmara dos deputados e aguardando a votação do Senado, existe o interesse em demarcar algumas terras do Brasil contando a partir do dia 5 de outubro de 1988, “segundo o projeto, para serem consideradas terras ocupadas tradicionalmente, deverá ser comprovado objetivamente que, na data de promulgação da Constituição, essas terras eram ao mesmo tempo habitadas em caráter permanente, usadas para atividades produtivas e necessárias à preservação dos recursos ambientais e à reprodução física e cultural”[6].
Os povos originários foram e são importantes na História do Brasil até hoje. Mesmo com toda a sede de extermínio e escravização que vieram dos Europeus e atualmente continua com os próprios brasileiros, os nossos Povos Originários, são os verdadeiros donos da terra, que já estavam aqui antes de 1500. O Estado tem papel para defender e não tornar/demarcar esses espaços mais um local de enriquecimento de burguês.
[1]Os nomes do Brasil” em Só História. Virtuous Tecnologia da Informação, 2009-2023. Consultado em 29/06/2023 às 22:47. Disponível na Internet em http://www.sohistoria.com.br/curiosidades/nomes/
[2]http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000292.pdf
[3] http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000292.pdf
[4] http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000292.pdf
[5] https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2023/01/25/quatro-anos-da-tragedia-em-brumadinho-270-mortes-tres-desaparecidos-e-nenhuma-punicao.ghtml
[6] https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/06/01/projeto-do-marco-temporal-das-terras-indigenas-chega-ao-senado
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