Paulo Afonso Linhares *
Caíram como uma bomba de muitos megatons, na comunidade mundial, as declarações do Papa Francisco, sumo pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, gravadas em Roma no 31 de março passado, dadas a um canal de comunicação argentino, o C5N, que o presidente Lula foi condenado sem provas e que a ex-presidente Dilma Rousseff, que fora alvo de um impeachment em 2016, tem as “mãos limpas”.
Gostando ou não de Dilma Rousseff e do presidente Lula, fato é que as declarações pontifícias seguramente têm um propósito altruístico que transcende os limites de um opinamento apressado e leviano lançado ao vento. O maior líder religioso de mundo de hoje jamais faria uma declaração graciosa, sobretudo, quando os agraciados são figuras políticas que exerceram e um deles ora exerce o cargo de presidente da República Federativa do Brasil, mesmo porque de há muito – quatro séculos talvez – a Igreja cuja pedra angular foi Pedro, apóstolo, cada vez mais se desprende da secularização e caminha para uma espiritualidade fulcrada no Evangelho cristão, ou seja, mais a Igreja primitiva dos primeiros tempos, os das catacumbas romanas, e menos Igreja dos palácios, do imperador Constantino, das riquezas e do poder temporal, que duraram cerca de 18 séculos, até a monumental guinada ocorrida com a publicação da Encíclica “Rerum Novarum”: sobre a condição dos operários do mundo, escrita pelo Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891 e que inspirou, quatro décadas após, fosse dada a lume outra importante Carta Encíclica, a Quadragesimo Anno, do Papa Pio XI, de 15 de maio de 1931 (no quadragésimo aniversário da Rerum Novarum), em que foi lançada uma reorganização das sociedades baseada na Lei Evangélica e, sobretudo, repudiava os regimes políticos autocráticos, à direita ou à esquerda. Outros documentos papais e movimentos ocorridos até os dias atuais, no seio dessa instituição de dois milênios, têm corrigido rumos e levado o catolicismo a patamares de superação de erros e enormes equívocos.
A inesperada ascensão de um latino-americano ao papado, com a eleição do argentino Jorge Bergoglio trouxe um enorme alento aos católicos do mundo inteiro e não apenas pela circunstância de que foi o primeiro pontífice não europeu em mais de 1.200 anos (o último havia sido o sírio Gregório III, falecido no ano 741) e também o primeiro papa pertencente à notável ordem religiosa Companhia de Jesus (em latim: Societas Iesu, S. J.), cujos membros são conhecidos como jesuítas, fundada em 1534 por um grupo de estudados da Universidade de Paris, tendo à frente o basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Santo Inácio de Loyola e que, reconhecidamente, deu enorme contribuição quando da colonização portuguesa no Brasil quinhentista, a exemplo dos padres Antônio Vieira, José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, de fortes pendores humanísticos na defesas dos povos originários, ditos “índios”, bem na trilha do frade dominicano espanhol Bartolomé de las Casas (1484-1566), cronista, teólogo, político e jurista que, na condição de “procurador de los índios” denunciou, em memoráveis escritos, as aberrações da colonização espanhola nas Américas e Caribe, com genocídios e massivas destruição de bens culturais.
O jesuíta papa Francisco, um típico e vigoroso “miles Christi” (“soldados de Cristo”, segundo se definiam Santo Inácio de Loyola e seus companheiros), todavia, é uma ardoroso defensor da paz e, principalmente, do exacerbado amor ao próximo que é o mandamento que condensa, segundo palavras do próprio Jesus Cristo, todos os outros mandamentos revelados ao profeta Moisés no Monte Sinai. O mais grave é que Francisco, que escolheu esse nome papal inspirado em São Francisco de Assis (“Il poverello de Assisi”), tudo para enfatizar sua enorme solidariedade humana.
Grande e definitiva inspiração naquele que mostrou à dourada Igreja de Roma, o então dissoluto Giovanni di Pietro di Bernardone, o verdadeiro e único caminho do amor ao próximo, seguindo as palavras daquele Cristo barroco da pequena e semi-destruída igreja da São Damião: um Francisco despojado de vícios materiais, mas, disposto a reconstruir a Igreja cuja construção legara Jesus a Pedro, o pescador.
Todo este remonte histórico – sintético para caber nas médias sociais – se faz necessário para mostrar que o papa Francisco, “il poverello di Buenos Aires”, é a poderosa voz que nos ensina o caminho do amor ao próximo, acima de qualquer reles preconceito cultural, racial ou de gênero. Enfim, como já ensinava o poeta latino Terêncio: “Homo sum, humani nihil a me alienum puto”. “Homem sou, nada da humanidade me é indiferente”, numa tradução livre do latim.
Por isto, o pasmo por algumas mentes toldadas de ideologias malsãs diante das assertivas do papa Francisco, sobre a prisão injusta do presidente Lula e o impeachment da ex-presidente Dilma. Chamá-lo de “vermelho”, de “comunista” ou outra bobagem do gênero é olvidar toda uma trajetória de superação pessoal e de amor ao próximo, acima de todas as coisas. Coisa de gente idiota. Vermelho mesmo, apenas algumas desprezíveis peças de seu vestuário. No geral, veste branco e pensa em todas as cores das possibilidades humanas.
O papa Francisco está certo e diz coisas, boas, sensatas e verdadeiras. No limite, pois, estou com o papa Francisco, até porque, desde sempre, em ultimíssima análise, prefiro acreditar piamente, nesse caso, no dogma da “infalibilidade papal”. E viva o papa Francisco, vigário de Cristo e suave pastor de todos nós. Acredito.

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PAULO AFONSO LINHARES é doutor em Direito, advogado, professor universitário aposentado e diretor-presidente da Rádio Difusora de Mossoró.

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