O fim de uma editora e a eterna falta de apoio à cultura no RN

Foi com imensa tristeza que li e reproduzi a notícia do fim do selo editorial Jovens Escribas, de Natal. Uma das melhores coisas do campo literário do Rio Grande do Norte desde a criação da Coleção Mossoroense, em 1949.

Ousada, a cria do jornalista, poeta e editor Carlos Fialho, morre jovem, próximo de atingir à sua maioridade, 18 anos. Uma lástima, mas algo até previsível num país que não ler, mata livrarias, fecha bibliotecas.

Enfrentando uma pandemia então, coisa tão nova para gerações e gerações de pessoas, tudo isto se transformou em um caos total. Mas os livros, num tempo em que não se poderia sair de casa, deveriam ter sido boas companhias, pelo jeito não o foram.

Ao ler a postagem-desabafo de Fialho, entrei numa máquina do tempo e voltei uns vinte anos no meu passado, quando tive a honra de trabalhar com o aficionado por livros, editor e idealizador da Mossoroense, o velho Vingt-un Rosado.

Já naquele tempo Vingt-um dizia que “fazer cultura neste país é coisa de maluco”. Alguém esqueceu de passar este mantra para o Fialho. Não tem futuro, como no poema de alguém que não lembro agora, “não dá pano pras mangas”.

É tema sempre atual o nosso estado, nós, que tentando sobreviver de arte e cultura, a falta de apoio aos nossos projetos. Somos relegados por todas as gestões, sejam municipais, estaduais ou federais à esta eterna mendicância. É preciso saber disto antes de entrar, senão, arvorar-se a mais que isto, pode resultar numa grande decepção. Eu sei, já passei por isto.

Leitura então… nem se fala. Eu, nesta labuta insalubre da escrita poética, já desisti de pagar a cerveja às custas do verso. Não brota, não dá. Lembro-me de um político de minha cidade que certa vez, ao me ver chegar com mais um livro debaixo do braço, exclamou aos seus pares, mas eu ouvi: “- Lá vem este cara de novo com coisa de livro!”

Outro que, como se achasse que isto seria uma grande vantagem com sorriso largo tascou-me: “- Vou comprar dois pra lhe ajudar! E” ainda um terceiro que, me disse que a Prefeitura local “não tinha dinheiro pra estas coisas!” As “coisas” eram meus livros. Mas Drummond já havia me avisado: “Lutar com as palavras é a luta mais vã”.

Ano passado, em meio ao cais da pandemia, um projeto nacional deu um fôlego aos que vivem da cultura, os projetos estão saindo agora do papel. Tendo em vista que muita coisa não deu pra ser executada naquele período. Este ano, como se a pandemia já tivesse acabado, voltamos ao pires na mão. Ninguém dá um pio de socorro para quem lida com a cultura e tem gente pensando no São João do ano que vem.

Cá com meus botões, acho que Fialho não vai fechar ainda as portas da Jovens Escribas. Assim como Vingt-un, muitas vezes decepcionado, anunciou o fechamento da Coleção Mossoroense, mas nunca o fez.

Se eu puder lhe aconselhá-lo, direi pra não fechar, apenas colocar os pés no chão, rabiscar alguns papéis e traçar novos rumos. Sabendo que, não dá pra viver disto, não dá mesmo. Cultura neste país sempre vai ser coisa de maluco, como dizia o teimoso Vingt-un. E, ainda, terminando o verso de Drummond, viver que esta labuta é sim, a luta mais vã, “no entanto lutamos, mal rompe a manhã”.

 

(Caio César Muniz, jornalista e poeta).