No Brasil, a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito. Os desastres nas ruas e estradas já deixaram mais de 1,6 milhão de feridos nos últimos dez anos, ao custo direto de quase R$ 3 bi para o Sistema Único de Saúde (SUS). Os números fazem parte de um levantamento elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Maio é o mês de conscientização e de prevenção desse importante problema de saúde pública: acidente de trânsito. É Maio Amarelo porque essa é a cor da atenção, do alerta! E, quando não há morte no momento do acidente, os traumas cranioencefálicos são uma consequência grave que pode ser devastadora. O neurocirurgião Marcelo Sabbá, médico da Relevance Neurocirurgia, alerta que, em caso de acidente, qualquer batida na cabeça deve ser avaliada por um médico, ainda que – aparentemente – não seja nada grave. O médico respondeu sete questões relacionadas aos acidentes de trânsito e aos efeitos que podem trazer na vida de cada um de nós que vive o trânsito no dia a dia, seja como condutor de meio de transporte, passageiro ou pedestre. Segundo ele, sempre é importante frisar a necessidade de atenção, de respeito e de responsabilidade que todos temos quando o assunto é trânsito. Confira:
1 – Quais são os principais impactos dos acidentes de trânsito na saúde humana?
Os acidentes de trânsito são uma das principais causas de morte em pacientes com menos de 50 anos de idade. Complicações respiratórias e hemodinâmicas (relacionadas a sangramentos), associadas ao tempo em que o primeiro atendimento é prestado, estão diretamente relacionadas ao desfecho do paciente. Quando falamos em lesão do sistema nervoso central, além de ser uma importante causa de morte, é também associada a um vasto quadro de incapacidades permanentes (sequelas). Isso acontece porque, quando existe uma lesão no cérebro ou na medula espinhal, normalmente o paciente apresenta perda de uma função. O não uso dos equipamentos de proteção (cinto de segurança, capacete, cadeirinha), uso de álcool e a não obediência às leis de trânsito são fatores causadores importantes. Nós, médicos, que acompanhamos as graves consequências dos acidentes na vida das pessoas, sabemos que os melhores resultados são obtidos por meio da prevenção.
2 – Há números de mortes por traumas encefálicos por acidente de trânsito?
Não existe esse dado no Brasil. A incidência anual de trauma cranioencefálicos no mundo é de 50 milhões de casos, o que sugere que metade da população global vai ter pelo menos um traumatismo cranioencefálico na sua vida. Há uma pesquisa americana que aponta que, anualmente, os traumatismos cranioencefalicos custam a economia global cerca de US$ 400 bi. Isso envolvendo as áreas de emergência, hospitalização e mortes.
3 – Do ponto de vista neurológico, quando não há morte, quais são os principais casos de sequelas físicas gerados pelos acidentes de trânsito?
Infelizmente o sistema nervoso central não apresenta capacidade de regeneração. Caso um neurônio morra, ele será substituído por uma cicatriz (e não por um novo neurônio). Isso mostra como o traumatismo cranioencefálico pode ter efeitos devastadores para o paciente. Estes vão desde quadros de alteração do comportamento, como insônia e dores de cabeça, até tetraplegia ou estado vegetativo persistente.
4 – Durante um acidente, mesmo que seja leve, se houver batida na cabeça sempre é aconselhado a avaliação de um médico?
Sem dúvidas. O mecanismo de trauma é um fator de alerta e o médico deverá ser consultado sempre! E há indícios que podem apontar que aquela batida leve causou danos mais graves. Assim, é importante ter ainda mais atenção se acontecer algum desmaio, vômitos, dor de cabeça refratária (aquela que não passa), crise convulsiva, sonolência e até alterações no comportamento. Mas mesmo que não ocorram esses sinais, se houver alguma batida na cabeça, a orientação é sempre – e rapidamente – ter a avaliação do médico.
5 – Na maioria das vezes, um paciente com um trauma de crânio fica quanto tempo hospitalizado?
A duração da internação é variável e tem relação direta com o quadro clínico do paciente, mecanismo do trauma e as lesões primárias. Essa internação pode durar poucas horas ou até meses.
6 – Nas crianças esse tipo de trauma também é comum?
Infelizmente, sim. A aderência da cadeirinha e do cinto de segurança no banco traseiro do carro (habitualmente frequentado pelas crianças) é muito baixo. Isso sem falar na baixa aderência aos capacetes nas motocicletas.
7 – Com a pandemia, os números de acidentes apresentaram queda. Porém, com a volta das atividades os médicos já sentiram que houve aumento nos casos de acidentes? Já deu para notar essa percepção?
A circulação de pessoas diminuiu bastante na pandemia. Esta situação teve impacto direto na melhoria dos números de acidentes de trânsito. Com a diminuição das medidas restritivas, estamos vendo um novo aumento dos acidentes. Trabalhar a prevenção e a conscientização é fundamental. Precisamos que as pessoas saibam que respeito e reponsabilidade precisam andar junto com os veículos no trânsito.
Marcelo Sabbá é neurocirurgião com atuação em neuro-oncologia, Microcirurgia Vascular, tratamento da dor, patologias da coluna vertebral, além de procedimentos minimamente invasivos no cérebro e na coluna. Realizou especialização em neuro-oncologia na Cleveland Clinic, além de pós-graduação no Hospital Sírio-Libanês. Atua como neurocirurgião assistente no Hospital Boldrini e Instituto Radium de Oncologia. É membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e da Society for NeuroOncology Latin America (SNOLA).