ENTREVISTA: Rilder Medeiros

A Feira do Livro de Mossoró (e de outros municípios potiguares) não existiria sem a perseverança do jornalista e editor Rilder Medeiros. Entusiasta da iniciativa, ele vem, por cima de pau e pedra, enfrentando a indiferença de gestores, driblando as dificuldades financeiras e a falta de apoio e… fazendo acontecer.

O Portal da Rádio Difusora de Mossoró conversou com Rilder esta semana sobre a Feira e outros assuntos do setor livreiro do RN. Acompanhe.

 

Fale-nos um pouco da sua Oficina da Notícia.

Criamos a Oficina da Notícia em  maio de 1997. Apesar de todas as mudanças que vêm acontecendo no setor, a Oficina completa 25 anos como a agência de comunicação com mais tempo em atividade no Rio Grande do Norte. A empresa, que nasceu especializada em assessoria de imprensa, incorporou a atividade de eventos para atender clientes corporativos e daí bastou um passo para se tornar também uma agência de produção cultural, criando seus próprios produtos como a Feira do Livro de Mossoró.

 

A Feira do Livro de Mossoró chegou aos seus 16 anos, aos trancos e barrancos. Como você avalia esta trajetória?

Os desafios em manter um projeto vivo por tanto tempo se torna ainda maior quando ele gira em torno do livro. Desde quando começamos, em 2005, vimos eventos importantes do setor sucumbirem diante das dificuldades, como a Jornada Literária de Passo Fundo e a própria Bienal do Livro de Natal. O que faz a Feira do Livro de Mossoró permanecer viva, mesmo após os dois anos de pandemia, é a nossa capacidade de adaptação às mudanças e, especialmente, a valentia das pessoas que estão conosco desde sempre e também daquelas que vão se somando durante a caminhada. Nessas 16 edições podemos ver claramente que a Feira se tornou uma referência no calendário de eventos literários do país, o que, por si só, não garante sua perenidade.

 

Com os apoios sempre restritos em geral ao Estado e aos municípios, que outras alternativas você vê para a continuidade da Feira?

O apoio governamental é importante para o evento na medida que a leitura e livro são percebidos pela população como uma prioridade para o seu próprio desenvolvimento. Alcançaremos nosso melhor momento quando não dependermos de nenhuma forma do apoio do poder público para que a Feira do Livro possa acontecer. Começamos a sensibilizar as empresas, por exemplo,  a enxergarem sua participação na feira como um estímulo  de leitura para os seus colaboradores, criando o próprio bônus livro, dentro das limitações de cada realidade. Quando as escolas visitarem a Feira e seus alunos puderem comprar os livros que escolherem para levar para suas casas, as livrarias e editoras não precisarão ficar contando com o cheque-livro das secretarias de educação como condição de participarem do evento.

 

Você já cogitou não continuar com a iniciativa. O que o fez retomar a ideia?

Claro que já pensei em desistir. Mas, por razões que desconheço, acabo sempre desistindo de desistir. Lá atrás eu havia dito que só faria dez edições da Feira. E agora me vejo planejando a décima sétima edição que irá acontecer em maio de 2023. Ao mesmo tempo em que é extremamente complexo todo o processo de realização da feira, com todas as suas etapas a serem vencidas,  ele é também muito energizante e gratificante.

 

Há a possibilidade de retomar a Feira em outros municípios?

Durante a realização da feira na UERN representantes de duas cidades nos procuraram com a proposta de fazermos uma feira como a de Mossoró em seus municípios. Uma dessas cidades foi Baraúnas, que já nos trouxe a ideia de promovermos o evento lá no mês de novembro próximo. Em Natal, nossa empresa realiza há 10 anos a FLiQ, feira de livros e quadrinhos. Neste ano ela irá acontecer em setembro, no Parque das Dunas. São poucas as cidades no Tio Grande do Norte que contam com livrarias funcionando. Nesses lugares uma feira de livros pode se tornar o principal evento cultural, atraindo crianças, jovens e adultos.

 

Você também é editor. Que avaliação faz do mercado livreiro no RN?

Apesar do número de livrarias abertas diminuir ano a ano aqui no estado, as editoras estão vivendo, talvez, um momento único em sua história. As escolas passaram a acreditar na literatura produzida aqui e estão recomendando nossos livros aos seus alunos. Isso está impactando de maneira expressiva no surgimento de novos autores e na publicação de novos livros.

 

Quem destacaria no cenário atual, como escritor e como editor no Estado?

Depois de Vingt-un, são poucos os editores que investem seus próprios recursos na publicação de livros alheios. Podemos dizer que temos em atividade no Rio Grande do Norte não mais do que cinco editoras (quase todas formadas apenas pela figura do próprio editor). Não seria justo nominar apenas alguém que se destaca. Somos todos meio quixotescos nesse cenário da edição de livros.

Com relação aos escritores, temos nomes que se destacam nos diferentes gêneros da literatura – uns vendendo mais e outros menos. No Seridó, estão se revelando bons talentos na poesia. No gênero terror dois nomes se destacam no Rio Grande do Norte: Márcio Benjamin e Jaime Azevedo, cobiçados por grandes editoras do país. Na literatura infantil poderíamos citar o pauferrense Manoel Cavalcante, além de Salizete Freire e José de Castro, todos já com uma longa lista de bons livros publicados. Nas escritas ficcionais eu destacaria a qualidade do texto de Ana Claudia Trigueiro e Eilson Gurgel. Nos contos, daria destaque aos  estreantes Bia Crispim e João Paulo Cirilo. No campo da História e Genealogia, o principal nome hoje no RN é o do pesquisador Luiz Fernando Pereira de Melo, com 81 anos e que durante a pandemia escreveu e publicou quatro valiosas obras. De todos os nomes da literatura contemporânea no estado, o maior destaque continua sendo o do poeta e escritor mossoroense Antônio Francisco. Antônio é um gigante e, lamentavelmente, ainda desconhecido pela maioria dos potiguares.

 

E esta parceria com a UERN? Qual o balanço geral desta retomada?

Este foi o ano do recomeço. Como tenho dito, a UERN mais que sediou a feira. A Universidade nos acolheu e hospedou. Esta parceria, que começa agora em 2022, dá início a um outro capítulo na história da Feira do Livro de Mossoró. Nossa ideia, também defendida pela reitora Cicília Maia, é envolver o maior número de departamentos e cursos da própria universidade com as atividades que serão desenvolvidas durante a feira. Temos um ano para planejar e executar as ações. Queremos envolver toda a comunidade de Mossoró com o evento, principalmente as escolas e as empresas.

 

E o jornalismo, aposentou de vez?

Serei sempre jornalista, mas digamos que esteja de férias na profissão. Completei 50 anos agora em 2022 e estou tentando traçar novos caminhos para percorrer daqui para frente. O jornalismo deve ser combativo e a comunicação dinâmica e acelerada por natureza. Hoje estou buscando mais trégua no trabalho e um caminhar para outros destinos. Quero dar uma atenção maior à edição e publicação de livros e tentar expandir a atuação da editora.

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