Por Caio César Muniz
Poeta, jornalista e produtor cultural.
Vem de longe esta história de Mossoró ser considerada a Capital da Cultura (antes do Brasil, agora do RN). Em 2007 a cidade que possui a editora recordista de títulos publicados no país, a Coleção Mossoroense, o maior cordelista brasileiro da atualidade, quiçá do mundo, Antonio Francisco e que canta em prosa em versos grandes feitos da sua história como a resistência ao bando de Lampião em 1927, o pioneirismo do voto feminino na América Latina, dentre outros, se arvorou a concorrer ao título de Capital Brasileira da Cultura.
Perdeu, logicamente. E perdeu porque Mossoró pode até ser capital da cultura do Rio Grande do Norte, como de fato foi oficialmente elevada esta semana por uma lei aprovada na Assembleia Legislativa do Estado, mas se assim for, é unicamente pelo trabalho árduo dos seus artistas e fazedores desta cultura.
O fato de ter um São João potente, com um carnaval fora de época no meio e no final não credencia Mossoró a ser capital de nada. Durante este mês de pão e circo, artistas não escolhidos a pisarem nos palcos, amargam dificuldades. Viver à sombra de Lampião não credencia, o espetáculo elitista e excludente da São Vicente não credencia.
A própria Coleção Mossoroense, definha ano a ano, já tendo sido um dos maiores movimentos editoriais do país, chegando a publicar até centenas de obras em um ano, mas não senão às custas do seu editor, o falecido Vingt-un Rosado, que chegava a tomar dinheiro emprestado a juros para publicar trabalhos alheios.
Antonio Francisco é uma feliz exceção, merece todos os louros, mas, enquanto isto Nildo da Pedra Branca sofria estes dias em busca de um medicamento; Galego do Jucuri quase morre por falta de um socorro para uma cirurgia que ainda precisa fazer, só para exemplificar.
Enquanto isto, emendas que poderiam chegar aos artistas, estão represadas por questiúnculas políticas e de vez em quando um ou outro se arrisca levantar a voz, mas certo de que dificilmente será visto com bons olhos depois.
Mas é inegável a força da cultura de Mossoró. Dos seus artistas. Sozinhos eles carregam nas costas o sucesso e estas titulações suspeitas. Não há uma semana que não brote um evento feito por eles, com pires nas mãos, pedem esmolas e fazem. Dia destes dois foram expulsos da Cobal, espaço público, eu também já fui.
É a política do “nem faço, nem deixo fazer”, parabéns aos artistas mossoroenses. Vocês, e só vocês podem justificar Mossoró como “capital” da cultura deste Estado. No mais é politicagem barata.
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