TEXTÃO de Caio César Muniz
(Do Fã-clube Alucinação Mossoró/RN)
Eu não ousaria me colocar na condição de amigo de Belchior, como já sugeriram alguns jornalistas e o próprio Jorge Mello, este sim, amigo, parceiro, compadre, sócio do bardo sobralense. Amizade é “uma coisa mais profunda do que encontros casuais”, foi nisto que se resumiu a minha relação com meu ídolo.
Mas havia sim uma aproximação diferente, em finais de 1998 lhe pedi para prefaciar um livro de poesias, ele foi sincerão e me perguntou que prazos eu tinha. Disse que estava em turnê e que não gostaria de me atrapalhar. Eu entendi, o livro levou sua marca ao final. Perguntei o que eu poderia colocar como uma referência a ele, ao que me respondeu: lá na última página coloque “era uma vez um homem e seu tempo”. Eu o fiz.
Naquele show, em Mossoró/RN, não me deixou sair do camarim enquanto autografava os demais fãs que faziam fila para colher sua assinatura e quando o chamaram para o palco, ele pediu que eu o acompanhasse. Pediu para colocarem uma cadeira para mim, por trás das cortinas, claro, e ali fiquei, antes mesmo das tais “alas vips”, que surgiriam depois.
De lá eu via meus companheiros de poesia Cid Augusto e Genildo Costa, doido pra que eles me vissem, todo pomposo de alegria. Assisti ao show em cima do palco. Belchior estava acompanhado com Sérgio Zurawski, o grande guitarrista do álbum “Um Concerto Bárbaro”.
Depois tivemos mais uns dois ou três encontros. Em um deles, em Natal, eu não conseguia nem esboçar minha alegria em sorrisos, pois havia feito uma cirurgia em um dente, ainda assim, percorri os mais de 400 quilômetros da ida e volta Mossoró/Natal. Fui recebido mais uma vez com a cordialidade de um gentleman, que era Belchior com a complacência do igualmente solícito e hoje saudoso Hélio Rodrigues.
Ouví-lo me chamar pelo nome era um bálsamo e me fazia sentir-me importante. Já falávamos de discos e de canções. Não fiquei no palco desta vez, mas na primeira cadeira, da primeira fila do Teatro Alberto Maranhão.
Em 2005 nos vimos pela última vez, aqui em Mossoró. Teatro pela metade, Diego Figueiredo ao violão. Não fui diretamente até ele no início do show, como das vezes anteriores, apesar da nossa proximidade, “conheço o meu lugar”.
No final fui recebido, fotografado e meus discos devidamente autografados. Belchior quis ficar com minha segunda versão do “Mote e Glosa”, não dei, mas assegurei que iria procurar um exemplar pra ele. Foi nosso último encontro. Depois, falei com ele mais uma vez, desta vez por telefone, por intermédio de “Helinho” mais uma vez. Queria saber sobre “Sorry Baby”, o compacto. Ele não sabia da gravação (ou não lembrava). Pelo menos foi o que me disse.
Depois sumiu… só vim a saber de sua vida pela famosa reportagem da Globo, coisa esquisita, inusitada, inacreditável para mim, enquanto fã. Depois vieram conversas com figuras mais próximas, como Jorge Mello e os componentes da Radar, como Monsieur Parron e Sérgio Zurawski, que me situaram com relação a tudo.
Em 2017 Belchior se foi, na véspera eu estava recebendo meu mais novo rebento. Não pude ir vê-lo em Fortaleza no momento de sua despedida. Talvez tenha sido melhor assim, guardo as melhores lembranças, poucas, mas de um fã privilegiado. Continuarei saudando sua vida, cultuando a sua memória, celebrando a sua existência.