Por Felipe Dutra
Graduando em História – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Estar a passar nas salas de cinemas, o quinto do filme da franquia de Indiana Jones, que traz como subtítulo “Relíquia do Destino. O nome do longa faz referência ao personagem principal da história, que possui formação acadêmica em Arqueologia. Confesso, nunca ter assistido as quatros películas anteriores, contudo sempre associei o nome do personagem a sua profissão, porém com pouco interesse.
O filme traz alguns contextos históricos, dentre eles: nazismo, guerra fria, corrida espacial, civilização grega dentre outros. É preciso refletir qual a importância de um/a arqueólogo\a?
Muito associada a História, a Arqueologia “é a ciência que estuda os documentos materiais, ou seja, os vestígios da cultura material dos povos do passado. Dessa forma, apresenta-se como uma disciplina que pode ser utilizada para auxiliar o estudo de qualquer época da história, visto que todas as sociedades deixam vestígios materiais em forma de habitações, utensílios, arte e mesmo lixo. Porém, usualmente, o mais importante campo de atuação dos arqueólogos são as culturas que não desenvolveram a escrita, ou cuja escrita não foi preservada pelo tempo. Nesse caso, na impossibilidade de serem desenvolvidos estudos de História baseados nos documentos escritos, a Arqueologia se torna a ciência predominante na busca de explicações e conhecimento sobre o passado”.[1]
No filme o vestígio material buscado, é a Máquina de Anticítera ou Antikythera “construído na Grécia helenística, entre 87 e 100 a.C., o mecanismo é um sofisticado aparelho astronômico de incrível precisão; foi usado para traçar o movimento dos planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno (os únicos planetas conhecidos na época), os ciclos do sistema solar, e a posição e fases da lua; a construção desse aparelho foi atribuída a Arquimedes, um dos principais cientistas e inventores da Antiguidade. As inscrições sugerem que ele foi fabricado em Corinto ou em Siracusa, onde Arquimedes viveu”.[2]
É um objeto instigante; conhecer os planetas, movimentos e posições em uma época que não existia GPS, era ter um certo domínio sobre a navegação, era saber se posicionar em meio a água, e ter uma vantagem na exploração/domínio de outros territórios. A licença poética usada no filme, chega a considerar o objeto como responsável por precisar locais em que é possível voltar no tempo e assim a narrativa vai se desenvolvendo. Os Estados Unidos na figura do personagem de Indiana Jones, procura o objeto para que os nazistas (no filme) não consigam, ter esse poder de voltar ao passado e mudar a História. É curioso lembrar que na segunda guerra mundial os EUA lutou contra os países do Eixo; mas presentemente “nos Estados Unidos, o uso de símbolos do nazismo, o “discurso de ódio” e a existência de grupos de perfil neonazista são práticas legais, amparadas no direito à livre expressão garantido pela Constituição”.[3]
Na cidade de Mossoró (Rio Grande do Norte) também temos um Doutor em Arqueologia, que passou mais de duas décadas pesquisando, estudando e transformando a nosso conhecimento a partir dos resquícios materiais e simbólicos de nossos antepassados. Em parceria com o IPHAN-RN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o professor (que tive o privilégio de ser aluno, e ganhar uma edição) Valdeci dos Santos Junior publicou a obra “A Simbologia Rupestre no Rio Grande do Norte”.
O professor Valdeci Junior possui “graduação em LICENCIATURA EM HISTÓRIA pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, especialização em literatura e produção de textos pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Mestrado em Arqueologia pela Universidade Federal de Pernambuco, Doutorado em Arqueologia pela Universidade Federal de Pernambuco, e Pós-doutorado pela Universidade de Coimbra (Portugal). Atualmente é Professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Tem experiência na área de Arqueologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Arqueologia Pré-histórica, conservação do patrimônio cultural e arqueológico, Registros Rupestres, Vestígios Líticos e Arqueologia histórica”.[4]
A obra “aborda uma pesquisa realizada em 381 sítios arqueológicos com registros rupestres em quatro mesorregiões do RN, a leitura permite ao leitor tomar conhecimento do potencial do patrimônio cultural deixado pelos grupos humanos pretéritos. O estado do Rio Grande do Norte já era habitado por grupos humanos há 9.400 anos, com resultados comprovados através de datações realizadas desde a década de 90 do século XX pela Universidade Federal de Pernambuco em sítios arqueológicos com enterramentos humanos nos municípios de Carnaúba dos Dantas e Parelhas, localizados na mesorregião central, microrregião do Seridó Oriental. A tipologia dessa presença “pré-histórica” no Estado inclui vestígios culturais como a cerâmica, o material lítico e os registros rupestres”.[5]
No dia 01/09 de 2019, a turma de alunos e alunas de graduação do curso de História da UERN-Mossoró mais precisamente o primeiro período, tiveram a experiencia ímpar em visitar um sítio arqueológico, a convite do professor Valdeci. Com o objetivo de conhecer na prática registros de povos antigos, foi realizada uma aula de campo, visitando a cidade de Jucurutu mais precisamente o sítio Pedra Ferrada; este sítio é considerado o maior do Brasil com gravuras rupestres, com uma área de cobertura de 5 km x 3 km de extensão. Totalizando 93 sítios. É lamentável que grande parte desse local será atingido pela construção de uma barragem. Apesar da importância que as barragens tem, a construção destas grandes obras acabam por gerar, em contrapartida, muitos impactos sobre os meios diretamente atingidos (abióticos, bióticos e antrópicos).
Por fim, “as visitas a sítios e os projetos de trabalhos coletivos em sala de aula auxiliam o professor a construir o conhecimento com seus alunos, e não mais simplesmente a se contentar em repassar as informações retiradas dos livros. Devemos, nós professores de História, ter sempre em mente que o conhecimento construído é o mais valorizado pelo indivíduo e o mais difícil de ser esquecido ou deixado de lado”.[6]
[1] SILVA, Kalina Vanderlei; Dicionário de Conceitos Históricos. 2ª edição; São Paulo, Contexto, 2009.
[2] https://ensinarhistoria.com.br/computador-mais-antigo-do-mundo/ – Blog: Ensinar História – Joelza Ester Domingues
[3] https://g1.globo.com/mundo/noticia/por-que-e-mais-facil-ser-neonazista-nos-eua-do-que-na-alemanha.ghtml
[4] http://lattes.cnpq.br/5748382599024802
[5] Santos Junior, Valdeci. A Simbologia rupestre do Rio Grande do Norte; Mossoró-RN; edição do autor,2022 354p.
[6]SILVA, Kalina Vanderlei; Dicionário de Conceitos Históricos. 2ª edição; São Paulo, Contexto, 2009.
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Foto/Capa: Obra “A Simbologia Rupestre no RN”. Acervo do Autor.