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Reporte Brasil Bloco01

Repente vira patrimônio imaterial do Brasil… eu deveria comemorar… mas não vou…

Eu sou poeta… ruim, mas sou. Minha vida inteira tem sido em busca de lugar ao sol para a poesia, a arte poética como um todo. Se tenho algum mérito na vida, talvez seja mais de fazer pela poesia, antes de fazer poesia propriamente dita.

Versos livres, sonetos enviesados, trovas e algumas coisas que não têm nome. Mais recentemente, cordéis. Influenciado pela onda do momento, mas sem querer morar neste lugar comum. Tudo isto compõe, para mim, um universo só, o da poesia. A arte. A mãe de tudo.

Agora leio que o repente, justamente o repente, arte tão ímpar se tornou patrimônio imaterial e intangível do país, antes, o cordel também fora elevado à condição de Patrimônio Cultural Brasileiro. Eu deveria comemorar? Talvez. Mas não o faço.

Para mim é uma segregação de gêneros literários, uma divisão daquilo que já não tem poder de sobreviver. Que anda à míngua pelos becos e latadas. De bandeja na mão. Titular um gênero poético em detrimento de outros, divide, não soma.

O que faremos com os versos livres de Drummond e de Cora Coralina? Com o poema escroto, atrevido e sem definição de Paulo Leminski? Já ouvi poetas populares desconsiderarem estes poetas pela falta de rima. Poesia é sentimento para além da métrica, da rima e da tal “oração” que eu também desconheço.

Para mim, pessoalmente (e ninguém precisa concordar comigo), a poesia brasileira deveria ser considerada patrimônio cultural brasileiro, material, imaterial e intangível. A poesia como um todo, o fazer poético, a arte. Não este ou aquele gênero. É isto, que venham as pedras.