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As perigosas trampolinagens do Trump
Por Paulo Afonso Linhares
(Doutor em Direito, advogado, professor universitário aposentado e diretor-presidente da Rádio Difusora de Mossoró).
No que muitos consideram um dos períodos mais conturbados da história política recente, o segundo mandato de Donald Trump – iniciado em 2025 – já se mostra marcado por uma série de medidas autoritárias e decisões de alto risco, que lançam uma sombra sobre o futuro dos Estados Unidos e reverberam por todo o planeta.
Desde o início de seu novo mandato, Trump adotou uma postura agressiva que lembra, em muitos aspectos, os alertas de pensadores democráticos como Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, autores de “Como as democracias morrem”. A promessa de “fazer as coisas ruins de uma vez só” parece ter materializado-se a partir de medidas que atacam de forma sistemática os pilares da democracia americana e tornam cada vez mais íngreme e tortuoso o chão republicano, ademais de impor um clima de incerteza e insegurança nas relações entre Estados soberanos e organizações multilaterais.
Entre as ações controversas, destacam-se políticas de repressão a imigrantes, a desmontagem de mecanismos de proteção ambiental e de saúde pública, bem como a enorme redução dos programas de assistência social – tanto internamente quanto em âmbito internacional, com o desmantelamento dos sistemas de assistência à saúde da população e de ensino básico estatal, além de acabar com o serviço de assistência a países vítimas de catástrofes e miséria, o USAID.
O novo governo não poupou críticas ao adotar práticas que atentam contra a liberdade acadêmica e de expressão, provocando temores de que o país esteja caminhando para um regime de viés autocrático, onde o discurso público é controlado e a oposição, silenciada. A postura dura também se reflete nas relações internacionais: ameaças de anexação de territórios tão diversos quanto o Canadá, a Groenlândia e a retomada da Zona do Canal do Panamá, já circulam entre os mais inquietos e não menos incrédulos analistas políticos.
A escalada não para por aí. Em uma tentativa de reconfigurar a ordem econômica global, Trump iniciou uma guerra comercial sem precedentes, impondo pesadas tarifas a produtos de mais de 70 países – com um foco especial na China e na União Europeia. Segundo estimativas, os mercados financeiros já sofreram um abalo significativo, com as bolsas de valores globais registrando perdas enormes e empresas norte-americanas, inclusive startups que anteriormente apoiavam o ícone da extrema direita, tendo seus valores de mercado despencado em mais de 7 trilhões de dólares.
No instante em que este texto é redigido, 11/04/2025, a “guerra do tarifaço” confronta perigosamente entre os dois gigantes da economia, Estados Unidos e a China. Após gradativas imposições de tarifas aos produtos chineses, que chegaram ao absurdo de 145%, os norte-americanos sofreram retaliações de 125% de taxa para as mercadorias que venderem para a China. Nesse perde-perde é difícil saber como vai terminar o bazé armado por Trump. Sem arroubos, a China responde à altura é perceptivelmente leva alguma vantagem. Certo é que, nesses parâmetros, não há negócios possíveis: ninguém compra, ninguém vende. No tocante aos outros países taxados em variadas alíquotas por Trump, a partir da menor de 10%, ele recuou ao estabelecer moratória de 90 dias. Recuos esses que agravam mais o clima de incerteza dos mercados, com drásticas perdas.
Os desdobramentos desse segundo mandato parecem ecoar um velho ensinamento de Niccolò Machiavelli, que na obra “Il Príncipe”, aconselhava: “Quando for praticar o mal, é fazê-lo de uma vez só”. E no começo do governo; as coisas boas, devem ser feitas a conta-gotas. Para muitos observadores, Trump aprendeu aquela lição de forma crua, utilizando sua autoridade para implementar mudanças drásticas e muitas vezes irreversíveis, sem a cautela que os tempos atuais exigem. A rápida sucessão de medidas – que os críticos classificam de “trampolinagens” – evidencia uma aposta no choque e na surpresa, sem a devida consideração das consequências a longo prazo.
Enquanto a comunidade internacional tenta se ajustar a essa nova realidade, os Estados Unidos enfrentam um cenário de incertezas que pode comprometer não só sua imagem no exterior, mas, também, a estabilidade interna. As grandes universidades e institutos de pesquisas estão sob intenso fogo emanado da Casa Branca: neste momento, mais de dois milhares de cientistas e renomados pesquisadores em todas as áreas do conhecimento, ameaçam trocar os Estados Unidos pelo Canadá, países da União Europeia e do Extremo Oriente, com graves e negativos reflexos no desenvolvimento científico e tecnológico do mundo.Economistas, acadêmicos e líderes políticos de diversos países alertam que o caminho trilhado por Trump tem potencial para desestabilizar não apenas o equilíbrio econômico global, mas, ainda, os fundamentos das democracias modernas.
Importantes instituições jurídico-políticas erigidas a 250 anos com a Declaração da Independência (4 de julho de 1776) e ampliadas com o advento da Constituição norte-americana (17 de setembro de 1787), em especial a estrutura estatal baseada na separação de poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), que atuariam segundo a genial fórmula política dos “checks and balances” (Balanços e Contrapesos), imaginada pelos “pais fundadores” da pátria norte-americana, se encontram em risco sob o tacão autocrático de Donald Trump e seus atos executivo que tudo podem. Com isso, já ressaltam as análises políticas que os Estados Unidos têm um governo autocrático e que pode igualmente incendiar o resto do mundo.
A história, entretanto, ainda está em construção. O que se vê hoje é um país à beira de uma transformação profunda – cujas repercussões podem se estender por décadas – e um mundo que assiste, apreensivo, aos desdobramentos de uma política marcada por riscos extremos e medidas que desafiam as convenções democráticas.
Este cenário, embora hipotético, serve como um alerta para os perigos que surgem quando líderes autoritários utilizam as instituições democráticas como trampolins para ações de caráter revolucionário. Em meio a um clima de tensão e incerteza, a vigilância e o debate público se tornam ferramentas essenciais para preservar a liberdade e a estabilidade que são a base de qualquer sociedade democrática e soberana.
Foto: Reprodução
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