Sobre as Academias de Letras

Por Caio César Muniz, jornalista e poeta.

 

A Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu três novos acadêmicos nestes dias e a norte-rio-grandense também tem um novo acadêmico. Para Mossoró, a cidade com mais instituições culturais e Academias por metro quadrado no país (quiçá no mundo), estas eleições trazem consigo algumas lições e ponderações:

  1. Fernanda Montenegro. Sem qualquer concorrência, foi eleita para ocupar a cadeira de número 17, antes de Affonso Arinos de Mello Franco, morto em março de 2020. Apesar da incontestável importância enquanto atriz, não tem este mesmo respaldo literário em lugar nenhum do mundo, se comparada, por exemplo, a escritora negra Conceição Evaristo, que perdeu um pleito à Academia tendo apenas um voto, em concorrência com o cineasta Cacá Diegues, o preterido, com 22 votos e Pedro Corrêa do Lago, neto de Oswaldo Aranha, com outros 11 votos. Detalhe, a “casa de Machado de Assis” nunca teve uma mulher negra em seus quadros;
  2. Na eleição do último dia 18 foi eleito para a Cadeira nº 12, antes ocupada pelo Acadêmico e professor Alfredo Bosi, falecido em abril deste ano, o médico Paulo Niemeyer Filho, com obras totalmente sem relevância no país, tecnicistas. O índio e indianista Daniel Munduruku, por sua vez, já publicou 56 obras, é um dos cinco finalistas do Prêmio Jabuti deste ano, um dos mais importantes da literatura mundial e seu livro “Histórias de Índio”, com mais de 25 edições já vendeu aproximadamente 100 mil cópias. Mundukuru obteve nove votos dos 34 acadêmicos que votaram, os outros 25 votos elegeram o médico. Devem estar precisando.
  3. Aqui, em terras de Poti, com um livro feito às pressas, como sob encomenda pelo eterno presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL), Diógenes da Cunha Lima, foi eleito “imortal” o ex-governador Geraldo Melo, em detrimento ao poeta, cronista, professor e editor David de Medeiros Leite. No melhor estilo rasgação de seda, o menor elogio feito pelo cabo-eleitoral do homem “tamborete”, Diógenes atesta que ele é um dos maiores romancistas do RN. É pagar pra ver, eu desconfio.

É certo de que se precisa de um grade lobby para se adentrar à estas instituições. Se o presidente (em geral aos moldes de Diógenes, perpétuos) tomarem partido, e eles tomam, já era para os concorrentes. Aconteceu comigo e Antonio Francisco aqui na terra de Santa Luzia. Fomos derrotados depois de uma campanha interna ferrenha e desleal do presidente, mas deixa para lá, foi muito melhor isto do que o convívio com algumas figuras que mostraram suas verdadeiras faces no processo, envoltos em muita falsidade e hipocrisia.

Sou presidente da Academia Iracemense de Letras e Artes (AILA), versão iracemense destas agremiações, já alertei meus pares sobre estes “perigos” e já almejo minha substituição. E mais, que seja uma mulher a próxima a conduzir os destinos da Academia. Quero apenas concluir algumas missões que me foram retardadas pela pandemia.

Na próxima cadeira a ser aberta na ABL vou concorrer, só pra ver o circo pegar fogo. É claro que sei que não vou ganhar, mas vou. Não é possível que eu não tire ao menos o voto do quase conterrâneo João Almino.

Sim. Sobre a terceira cadeira na ABL (não 3º via), Gilberto Gil é unanimidade, um grande nome pra compor aquele quadro mofado de fardões e chaleiras. Já era imortal, não precisava de Academia.

Assim, segue a Academia sendo um agrupamento elitista e cada vez mais excludente. TEMOS QUE TOMAR CUIDADO COM ISTO.